O título da coluna é chamativo, assim como é a sensação que eu particularmente sinto quando tenho a oportunidade de comer carne bovina. O prazer em consumir carne é para mim um fato bem aceito, algo que tenho muita clareza ao perceber, e identifico, talvez, dois aspectos do consumo de carne para ressaltar nesta coluna.
A carne, proteína que consumimos como rotina diária, e que faz parte de uma alimentação equilibrada, associada aos outros grupos alimentares como carboidratos, verduras, legumes, frutas, laticínios, apenas para citar alguns. Esta carne do dia-a-dia talvez pode até passar desapercebida, pois compõe a refeição de nossa rotina e talvez seja notada apenas quando estiver ausente. Digamos que esta carne constitua, assim, um prazer menos consciente.
Porém existem outros momentos muito especiais do consumo de carne, e mencionarei aqui o churrasco, pois muito além do consumo desta proteína, o evento do churrasco tem diversas conotações: o prazer da conviver, do reencontro, de estar com a família e/ou amigos, confraternizando, conversando e interagindo. No churrasco o assador (ou a assadora) tem a oportunidade de realizar o seu espetáculo, de colocar o seu toque pessoal, de ser o protagonista. O prazer de estar ao redor do fogo, vendo o lento processo de defumação e preparo da carne, dos pedaços sendo servidos aos pouquinhos, respeitando a sequência do que grelha mais rápido e daquilo que precisa de mais algum tempo para assar e apurar o sabor. As conversas, as brincadeiras, os perfumes, os sabores, o ritual, tudo isto embute em si o grande prazer de consumir a carne.
Certamente minha origem e vivência, tanto familiar quanto profissional, contribuem para o fato de eu enxergar com tanta objetividade e naturalidade o consumo de carne bovina, advindo de um sistema de produção de alimentos estruturado, tecnificado, realizado por famílias e empresas sérias, que com amor e dedicação produzem gado de corte para alimentar a população brasileira e internacional, algumas há muitas gerações, passando o conhecimento para os filhos e netos que seguem os negócios de propriedades rurais, frigoríficos, supermercados e restaurantes. Não sinto nenhuma culpa neste consumo, nenhum arrependimento, nem que esteja fazendo nada errado.
Assim como eu, milhares de famílias de produtores rurais, milhares de profissionais como médicos veterinários, zootecnistas, engenheiros agrônomos, técnicos das mais diversas formações, e além deles outros milhares de pessoas envolvidos no negócio de produção e alimentos, em quaisquer etapas (produção, industrialização, distribuição, varejo ou setor de alimentação) compartilham desta visão.
Confesso que fico chocada ao encontrar pessoas que sentem culpa ao consumir qualquer tipo de alimento que seja (quer sejam carnes, ou outros produtos de origem animal, ou mesmo carboidratos, doces, farináceos, glúten ou produtos industrializados – minimamente ou “maximamente” processados). Lamento muito que algo tão prazeroso e vital quanto comer possa gerar culpa, e não prazer, em quem quer que seja.
Mas preciso deixar claro que eu também respeito profundamente quem decide evitar o consumo de algum alimento por uma preocupação de origem ética ou moral. Certamente se esta pessoa consumir aquele alimento com culpa, ele realmente não fará bem – nem emocionalmente, nem para seu organismo. Comer com culpa, ninguém merece. Melhor evitar comer culpa – dá indigestão.
Em resumo, para aqueles que comem produtos de origem animal com prazer, uma boa notícia: vocês não estão sozinhos. E existe uma cadeia de produção de alimentos séria, antenada às necessidades do consumidor, fazendo de tudo para que você alie o prazer do consumo à certeza de não estar fazendo nada errado.
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